terça-feira, 20 de novembro de 2012

A hora do sprint



* por Tom Coelho

“Quando você tem uma meta, o que era um obstáculo
passa a ser uma etapa de seus planos.”
(Gerhard Erich Boehme)


China, 2008. No complexo aquático chamado “Cubo d’água”, todas as atenções estão voltadas ao norte-americano Michael Phelps que chegou à Olimpíada de Pequim com a missão de conquistar oito medalhas de ouro numa mesma edição dos jogos.

Após faturar o primeiro ouro nos 400 m medley, Phelps abre a prova do revezamento 4x100 m estilo livre para a equipe dos EUA. Contudo, é superado pelo australiano Eamon Sullivan, entregando a prova para seu companheiro na segunda colocação.

Garrett Weber-Gale, por sua vez, faz uma prova fantástica, colocando os EUA na primeira posição após sua passagem. Porém, Cullen Jones tem um desempenho medíocre, perdendo a liderança para os franceses e permitindo a aproximação dos australianos.

Jason Lezak é o quarto e último nadador estadunidense a saltar na piscina. Ele enfrenta o ex-recordista mundial da prova, o francês Alain Bernard, que já larga com uma vantagem de 59 centésimos de segundo. Após os primeiros 50 metros de prova, esta distância aumenta para 82 centésimos. Parece ser o fim do sonho dourado de Phelps. Porém, nos últimos 20 metros, Lezak dá um sprint inacreditável e supera Bernard em apenas oito centésimos, vencendo a prova e batendo o recorde mundial.

A cada réveillon temos por hábito planejar uma série de resoluções de ano novo. Assim, estabelecemos metas as mais diversas. Coisas como cuidar melhor da alimentação, praticar atividade física com regularidade, trabalhar com maior afinco e entusiasmo em busca de resultados mais efetivos.

Entretanto, as semanas passam, uma crise econômica se instala, a desmotivação nos abate e passamos até mesmo a acreditar que todas aquelas metam não podem mais ser alcançadas porque as adversidades são muitas e o tempo é curto. O aluno com notas vermelhas desconfia que será reprovado, o vendedor com baixo índice de negócios tem quase certeza de que será demitido, o atleta com resultados pífios resigna-se de que será derrotado.

Pois é exatamente neste momento que precisamos promover uma grande virada. Valorizar o pouco tempo que nos resta, fazendo uso dos recursos disponíveis para perseguir resultados extraordinários. Há partidas de futebol que são vencidas nos acréscimos concedidos pelo juiz. Há concorrências que são vencidas pelo postulante a entregar seu envelope de oferta no último minuto.

O estudante inteligente perceberá que com dedicação e concentração poderá passar nos exames finais. O vendedor astuto encontrará na retomada da economia e nas festas de final de ano a senda para cumprir sua cota. O atleta psicologicamente bem preparado saberá que as derrotas passadas são apenas sementes para a maturidade e que a vitória mais importante está no próximo ponto a ser disputado.

Jason Lezak fez história com um esforço supremo nos últimos instantes de sua prova. Venceu por uma fração de segundo. Como ele mesmo declarou, sua preocupação não estava em compensar o tempo de desvantagem que tinha ao assumir a prova. Também não estava em enfrentar um oponente renomado. Seu único objetivo era ajudar a sua equipe e fazer o seu melhor.

Agora pergunte a si mesmo: o que já foi feito ao longo deste ano e o que você ainda pode, deve e irá fazer com os dias que lhe restam antes de mais uma virada no calendário?


* Tom Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em 17 países. É autor de “Somos Maus Amantes – Reflexões sobre carreira, liderança e comportamento” (Flor de Liz, 2011), “Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional” (Saraiva, 2008) e coautor de outras cinco obras. Contatos através do e-mail tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite: www.tomcoelho.com.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Guerras e guerras



* por Tom Coelho





“Combater a si próprio é a mais dura das guerras,

vencer a si próprio é a mais bela das vitórias.”

(Friedrich von Logau)









Desde pequeno acostumei-me com a guerra.





Primeiro foi uma guerra para sair do conforto do ventre de minha mãe, onde eu tinha alimento e segurança, num dia que chamaram de parto e depois deram o nome, talvez só para me tapear, de aniversário.





Depois veio uma guerra particular bem interessante que consistia em ficar em pé e aprender a andar.





Lá pelos quatro anos de idade fui apresentado a um verdadeiro arsenal de guerra, formado por bisnagas de plástico, confetes e serpentinas, durante uma festa que atendia pelo nome de Carnaval. Eram guerras bem animadas!





Anos depois, viriam as guerras que guardo com mais carinho na memória. A guerra de almofadas que começava na sala e terminava como guerra de travesseiros no quarto. Foi uma época de desenvolvimento de táticas de guerrilha. Eu me entrincheirava atrás do sofá e espalhava sapatos e chinelos-mina pela sala e corredores.





Trocar a TV, o videogame e as brincadeiras com os colegas pelas tarefas escolares eram uma guerra e tanto. O mesmo para arrumar o quarto, tomar banho e ir dormir cedo.





Então veio uma série de outras guerras. Guerra para ser aceito pelo time de basquete do clube, mesmo sendo baixinho. Guerra para tirar boas notas e se destacar na escola. Guerra para entender as transformações que os hormônios provocavam no corpo. Guerra para criar coragem e convidar aquela garotinha para sair...





Mais alguns anos e as guerras foram tomando conotação mais séria. Guerra para passar no vestibular. Guerra para obter o diploma. Guerra para conseguir um emprego e, estando nele, aprender a aceitar a hierarquia, os conchavos nos corredores, as conspirações no hall do café, as armadilhas no elevador. Guerras corporativas engendradas por coronéis sem patente, travadas por soldados muitas vezes lançados a campo sem treinamento e provisões. Guerra contra a concorrência, sem interesse na diplomacia. Guerra contra a ineficiência, sem previsão de armistício. Guerra pelo consumidor, por sua preferência e fidelidade.





E, nesta toada, guerra para encontrar uma alma gêmea. Guerra para seduzi-la a casar-se e, depois, a separar-se. Guerra pela custódia dos filhos. Guerra para montar uma empresa, pagar salários, pagar impostos – e, de repente, ter que fechar a empresa. Guerra contra os juros do cheque especial.





Lendo os jornais observo o desenrolar de outros tipos de guerra. Guerra pela demarcação geográfica, guerra pelo petróleo, guerra pela autoridade. E, talvez, a pior de todas: a guerra em nome de Deus, a que chamaram de guerra santa, apenas para envolver de corpo e alma milhões de inocentes, jovens ou maduros, mas que na verdade atende aos mesmos preceitos de terra, dinheiro e poder de todas as guerras convencionais.





Hoje, já adulto, dei-me por conta de como nossas guerras vão perdendo significado real na medida em que nossas pernas crescem. As guerras migram do prazer para a ignorância, da pureza para a intolerância. Bilhões gastos para matar mais gente, quando poderiam amenizar a dor e o sofrimento, a fome e a miséria, de milhões espalhados pelo mundo. Muito dinheiro investido em produtos que não são desejados, em tecnologias que não serão usadas, em treinamentos que não proporcionam aprendizado, em confraternizações que não geram integração. Tudo porque as nações tratam as outras como países, isolando-se em torno de seus interesses. Tudo porque as empresas tratam seus colaboradores como móbiles, fertilizando o terreno para uma guerra civil ao não definirem seus valores, missão e ideais de forma compartilhada.





Olhamos para o lado e vemos a guerra para saber quem avançará primeiro o semáforo fechado, a guerra para determinar quem vencerá a licitação, a guerra contra o narcotráfico, a guerra pela sobrevivência. Nesta hora vemos que Darwin enganou-se, que a seleção não é natural porque a natureza quer, mas porque o homem assim o deseja.





Então, coloco-me diante de minha maior guerra pessoal: a de entender o porquê de as coisas serem assim. Compreender como fui me deixar convocar por este exército de insanos. E imaginar em qual ponto no espaço e em que momento no tempo desgarrei-me da criança que vivia e amava a guerra, como ela deveria ser.









* Tom Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em 17 países. É autor de “Somos Maus Amantes – Reflexões sobre carreira, liderança e comportamento” (Flor de Liz, 2011), “Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional” (Saraiva, 2008) e coautor de outras cinco obras. Contatos através do e-mail tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite: www.tomcoelho.com.









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domingo, 7 de outubro de 2012

A ética do resultado

 
* por Tom Coelho


“Fins éticos exigem meios éticos."

(Marilena Chauí)



A geração Y possivelmente nunca ouviu falar de Gérson de Oliveira Nunes, jogador de futebol que integrou a equipe campeã mundial em 1970. Seu nome ficou eternizado quando, em 1976, protagonizou uma propaganda de cigarros na qual, após desfilar os diferenciais do produto, proclamava: “Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também”. Assim nasceu a “lei de Gérson”, amplamente estudada por sociólogos e antropólogos, utilizada para designar a natureza utilitarista do brasileiro.


A estabilidade econômica advinda com o sucesso do Plano Real (1994), associada às políticas de transferência de renda da última década, conduziram-nos ao mercado de consumo. Experimentamos com uma defasagem de 50 anos o que norte-americanos vivenciaram em meados do século passado. O controle da inflação e a expansão do crédito fizeram-nos descobrir o prazer de comprar. E isso modificou nossos padrões éticos.


Em ano de eleições esta constatação é cristalina. Não importam os escândalos e desmandos de governos, em todos os seus níveis, revelados pela imprensa. Pouco importa a biografia dos candidatos. Torna-se insignificante a história dos partidos e os conchavos entre as legendas. A sociedade está anestesiada, porque foi entorpecida pela ética do resultado.


Nas escolas privadas, estudantes deixaram de ser aprendizes para se tornarem clientes. Assim, pagam uma mensalidade como quem compra um diploma em suaves prestações, exigindo não a qualidade de ensino, mas sim as facilidades para serem aprovados. Vale a pretensa inclusão no mercado de trabalho.


Nas empresas, fala-se em sustentabilidade e responsabilidade social, mas o caixa-dois e a sonegação fiscal são ostentados como imperativos para a competitividade. Vale a manutenção do lucro na voraz economia de mercado.


Os cidadãos criticam e queixam-se dos abusos praticados pelos políticos e pelo serviço público, mas não hesitam em trafegar pelo acostamento, pedir desconto ao dentista para realizar um tratamento sem emissão de recibo ou mesmo obter uma carteirinha de estudante forjada para garantir desconto em eventos culturais. Vale a garantia de um benefício pessoal.


Dentro deste contexto, ressurge o princípio maquiavélico de que os fins justificam os meios. Isso explica nossos comportamentos e nossas escolhas. Mas também denota nossos valores e nossa omissão – ou conivência.


Todo processo eleitoral é emblemático para aflorar discussões desta estirpe, porque independentemente da retórica dos candidatos, do tempo de exposição na mídia ou dos recursos financeiros envolvidos em uma campanha, a decisão final é do cidadão que, solitária e sigilosamente, sentencia seu futuro e o da nação diante da urna.


Muito valor é dado às eleições majoritárias, ou seja, aquelas que elegem presidente, governadores, prefeitos e senadores. Mas é importante alertar para a relevância extrema das eleições proporcionais, isto é, a que seleciona deputados e vereadores, pois são estes os que mais próximos estarão do eleitor.


A “lei de Gérson” não sucumbiu, mas apenas ganhou nova roupagem. Precisamos resgatar a ética da intenção em contraposição a esta ética do resultado. Urgentemente.



* Tom Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em 17 países. É autor de “Somos Maus Amantes – Reflexões sobre carreira, liderança e comportamento” (Flor de Liz, 2011), “Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional” (Saraiva, 2008) e coautor de outras cinco obras. Contatos através do e-mail tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite: www.tomcoelho.com.

sábado, 7 de julho de 2012

Regras de ouro para administrar o tempo e viver melhor


"Some dance to remember, some dance to forget."


(Eagles, in Hotel California)






Algumas dicas práticas para melhor gerenciar o tempo e elevar a qualidade de
vida.






1. Seja sempre pontual. Autênticos líderes não deixam ninguém esperando para
um compromisso agendado. É preferível chegar 30 minutos mais cedo que apenas
cinco minutos atrasado.






2. Espere 24 horas para reagir. Procure não reagir antes de 24 horas. Entre
um dia e outro, com uma noite de descanso no meio, o que se mostrou um
problema irresoluto surgirá não menor, mas com dimensões reduzidas à sua
realidade.






3. Ninguém está contra você. Por compreender que a natureza humana é
legitimamente individualista e egoísta, aprendi que raramente as pessoas
estão contra mim, pois estão apenas a favor delas próprias. Esta percepção é
suficiente para evitar conflitos desnecessários e eleger as batalhas que
valem a pena ser travadas.






4. Exceção não é regra. Refeições feitas em fast food ou em frente ao
computador, noites em claro ou maldormidas, dias sem comparecer à academia,
certa desatenção para com os familiares. Tudo isso, embora indesejável e não
recomendável, pode ser tolerado quando acontece de maneira pontual, por
curtos períodos de tempo. Mas é inadmissível que se torne regra.






5. Administre a transição do ambiente profissional para o familiar.
Situações de conflito começam ou se intensificam nos primeiros minutos após
o regresso ao lar. Por isso, ao chegar em casa, estabeleça uma zona
intermediária de até 15 minutos, período no qual deverá apenas cumprimentar
carinhosamente seus familiares com no máximo 25 palavras. Procure
desacelerar. Tome um banho, troque suas roupas, beba algo. O diálogo que
seguirá será mais ameno, gentil e profícuo.






6. Gerencie a concentração, não apenas o tempo. Estabeleça uma hora por dia
sem interrupções para você e neste intervalo trabalhe concentradamente em
três objetivos específicos. Faça as tarefas mais desagradáveis logo no
início do dia, quando sua energia, concentração e disposição são superiores.








7. Evite o duplo manuseio. Ocorre quando você recebe as correspondências do
dia, faz uma triagem, inicia a leitura de uma carta ou e-mail e decide
interrompê-la para continuar depois. A regra é começar e terminar!






8. Administre a energia, não o esforço. Faça pausas estratégicas de apenas
30 segundos a cada meia hora, e pausas essenciais de dois a cinco minutos no
meio da manhã e à tarde para aumentar sua energia e concentração.






9. Não espere pelo mundo perfeito. O tempo certo para agir é agora. Não de
qualquer jeito, não com mediocridade, mas com o máximo empenho possível.
Amanhã, como diriam os espanhóis, é sempre o dia mais ocupado da semana.






10. Ouça sua intuição. Fique atento aos "sinais" por mais sutis que sejam.
Isso não significa necessariamente seguir à risca a intuição para tomar
decisões, porém jamais ignorá-la.






11. Coloque VOCÊ em sua agenda. Determine um dia por semana, e apenas uma
hora nesse dia, que será reservada a você e mais ninguém. Desligue
telefones, feche a porta da sala, não receba ninguém - apenas a si próprio.
Dê atenção e oportunidade à pessoa mais importante de sua vida: você mesmo!






12. Tenha uma agenda de 10 segundos. Em que pesem todos os planos, com os
pés firmes no chão e os olhos no firmamento, a vida está acontecendo aqui e
agora. Por isso, sua agenda deve contemplar somente os próximos dez
segundos. Talvez breves, talvez distantes, talvez intermináveis e, talvez,
inatingíveis dez segundos.






13. Faça de seu trabalho um meio de diversão. Este é um aviso essencial
àquelas pessoas que, ao entardecer do domingo, têm uma sensação de angústia
diante do início de mais uma semana de trabalho que se avizinha. Procure
cultivar um trabalho digno e prazeroso, que seja fonte de alegria e não de
infelicidade. 






14. Evite as saudades vazias. Saudades dos lugares que não visitou, das
viagens que não fez, dos pratos que não provou, dos abraços que não acolheu,
dos beijos que não deu ou recebeu. Lembranças imaginárias do que poderia ter
sido, mas não foi. Para evitá-las, prefira pecar por excesso do que por
omissão.






15. Aproveite o momento! Por fim, viva sua vida de forma extraordinária, com
intensidade. Não se trata de aproveitar o dia como se fosse o último e,
desta forma, fazê-lo de maneira irresponsável, mas de elevar a qualidade de
cada momento, proporcionando a si e oferecendo aos demais o que você tem de
melhor.






Tal qual a letra da banda Eagles, que prefacia este texto, alguns dançam
para lembrar, outros, para esquecer. Em qual grupo você está?


segunda-feira, 4 de junho de 2012

O que aprendi com Michel Temer


"A vida depende de circunstâncias alheias à nossa vontade."

(Michel Temer)


Os grupos de jovens empreendedores coordenados pela Federação e pelo Centro
das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP/CIESP) receberam o
vice-presidente da República, Michel Miguel Elias Temer Lulia, em uma noite
certamente memorável.



De início, diante da expectativa de ouvir uma personalidade do cenário
político, alguns podem ter imaginado que encontrariam um discurso enfadonho
ou uma retórica enviesada e superficial. Afinal, é natural que, tomados por
ideologias pessoais, façamos até inconscientemente um juízo de valor,
erguendo muros de ressalvas antes mesmo de pronunciada qualquer palavra.



Todavia, diante de uma pauta livre e convidado pelo presidente das
entidades, Paulo Skaf, a abordar sua trajetória profissional, o que
recebemos na sequência foi uma autêntica aula magna.



A primeira lição foi sobre humildade. Diante de seu atraso para a chegada ao
local do evento, onde mais de 400 pessoas o aguardavam, iniciou seu discurso
com um pedido veemente de desculpas à plateia, evitando esquivar-se com base
na hierarquia, como muitos em posição de liderança optariam por fazer.



A segunda lição foi sobre democracia. Para melhorar as instituições é
necessário respeitar a ordem jurídica, forjada na Constituição; aproximar o
"Brasil formal" (que está no papel) do "Brasil real" (que está nas ruas),
conciliando todos os setores sociais, sem exceção; e promover a liberdade de
informação, pois onde não há contestação, não há democracia.



A terceira lição foi sobre empreendedorismo. Uma trajetória vitoriosa se
inicia com a vontade de realizar, a preparação para fazê-lo, a dedicação
para perseverar, o entusiasmo, para com "Deus dentro de si" não esmorecer
diante das lutas e, finalmente, o ânimo, do latim anima, que representa o
princípio espiritual da vida - a alma, em sua essência maior.



Ao final, os que tiveram o privilégio de ouvi-lo, descobriram que o
advogado, doutor em Direito, oficial de gabinete, secretário de Educação,
procurador-geral e secretário de Segurança Pública de São Paulo, deputado
constituinte, deputado federal eleito por seis mandatos, presidente da
Câmara dos Deputados por três vezes, presidente de seu partido e
vice-presidente da República, revela por trás de toda sua experiência um
educador, mais do que um professor; um conciliador, acima do político; e um
escritor, não cronista ou contista, mas da história de nosso país que vai
sendo tecida a cada dia - por ele e por todos nós.





* Tom Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em
17 países. É o atual diretor titular do NJE/CIESP. Contatos através do
e-mail: tomcoelho@tomcoelho.com.br.
Visite:   www.tomcoelho.com.br.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

A Paixão de cada um

A violência, sob qualquer forma
que se manifeste, é um fracasso."

(Jean-Paul Sartre)







Violento. Foi esta a palavra que mais encontrei para definir o polêmico
filme A Paixão de Cristo, produzido e dirigido por Mel Gibson. Pude ouvi-la
pessoalmente e por diversas vezes, proferida por pessoas de sexo e idade
diferentes. Coloquei-me, então, a refletir sobre o porquê dessa percepção.



Chuck Norris, Van Damme e Jet Li golpeiam metade do elenco em seus filmes.
Cenas formadas por lutas elaboradas, com emprego de técnicas refinadas de
artes marciais. O protagonista mostra-se superior até a "batalha final"
travada contra o malfeitor. Nessa disputa, enfrenta dificuldades para
suplantar o adversário. Apanha, sofre, até que uma gota de seu sangue surge
após um golpe certeiro desferido pelo oponente. Está aberta a porta para que
o mocinho se supere, derrotando de forma exemplar as "forças do mal".



Stallone, Schwarzenegger e Steven Seagal também são bons de briga. Usam
desde tacos de beisebol até bolas de bilhar e garrafas de bebida para
colocar os opositores fora de combate. Mas, como se não bastasse, também são
bons atiradores, resolvendo a questão com metralhadoras, granadas,
lança-chamas ou apenas uma arma de elevado calibre.



Vejo também filmes em que catástrofes naturais, extraterrestres, bombas
atômicas e toda sorte de eventos destroem o planeta. Filmes de guerra e de
combate ao narcotráfico em que pessoas são amputadas, fuziladas e perdem a
vida com um disparo na têmpora.



Nada disso é violento para nós.



Trata-se de um jogo lúdico, uma catarse. Representa nossos estigmas, um
desejo inconteste do subconsciente de fazer valer a justiça que não temos,
não recebemos, não praticamos. E talvez a justiça que não desejamos, não
merecemos, não engendramos.



O que torna A Paixão de Cristo violento é o fato de acompanharmos por 126
minutos o sofrimento e a dor de Jesus e sentir de forma muito presente que
somos nós mesmos os protagonistas do filme. A cada tapa, a cada chibatada, a
cada queda, sentimo-nos como se fôssemos nós mesmos a receber tais punições.
É isso que incomoda a quem assiste a esta película - e onde reside seu maior
mérito. Não é um personagem qualquer que está sendo castigado. Pouco importa
a religião de cada um. O fato é que tomamos consciência de nossos pecados,
pequenos ou obtusos, o que nos permite o reconhecimento como partícipes
dessa violência recorrente.



Somos complacentes com a violência desferida a terceiros. Até nos mostramos
apreensivos, um pouco incomodados, mas o fato é que apenas o constrangimento
impingido a nós mesmos torna-se objeto de reação.



Sentimo-nos injustiçados quando preteridos em nossas atividades
profissionais, mas não temos dificuldades em subjugar ou demitir quem não se
alinha com nossos interesses. Condenamos práticas públicas espúrias, mas não
hesitamos em buscar pequenos favorecimentos pessoais. Vestimo-nos de branco
e rogamos pela paz, mas admitimos a guerra exercida em nome de Deus.



Cada um tem sua própria Paixão e sua própria cruz por carregar. Estou certo
de que aquele que acompanhou o calvário de Cristo como retratado no filme
jamais olhará incólume para um crucifixo a partir de agora, vendo-o como um
mero ícone apenas.



Só não estou certo se cada um, dentro de sua crença e de sua fé, superada a
angústia inicial, será capaz de encontrar o caminho, a verdade e a vida.





* Tom Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em
17 países. É autor de "Somos Maus Amantes - Reflexões sobre carreira,
liderança e comportamento" (Flor de Liz, 2011), "Sete Vidas - Lições para
construir seu equilíbrio pessoal e profissional" (Saraiva, 2008) e coautor
de outras cinco obras.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Copa e Olimpíada - Lições de planejamento e ética



"Acordo de manhã dividido entre o desejo de melhorar (ou salvar) o mundo

e o desejo de desfrutá-lo (ou saboreá-lo).

Isso dificulta o planejamento do meu dia."

(E. B. White)





Zurique, Suíça, 30 de outubro de 2007. O Brasil é anunciado como palco para
a Copa do Mundo de 2014. Dois anos depois, mais precisamente em 2 de outubro
de 2009, seria a vez do Rio de Janeiro derrotar Chicago, Tóquio e Madri,
sendo escolhida como cidade sede para as Olimpíadas de 2016. Parece que foi
ontem...



O relato que farei a seguir caberia já em 2007, o que lhe configuraria um
caráter ainda mais profético. Mas ainda é digno de registro. Afinal, há um
consenso de que muitos são os desafios a serem superados para que ambos os
eventos não sejam um fiasco capaz de comprometer a imagem de nosso país.



O problema está na infraestrutura sob todos os aspectos. Aeroportos com
pátios lotados e saguões cheios, atrasos e cancelamentos nos voos, demora na
restituição de bagagem, falta de vagas nos estacionamentos. Infraestrutura
viária caótica, com transporte coletivo insuficiente, congestionamentos e
falta de sinalização. Estádios e complexos esportivos com cronograma
atrasado. Ausência de preparo e treinamento de mão de obra para atender aos
turistas. Falta de um plano de segurança e de contingenciamento de crises.



Todos estes são aspectos relacionados à gestão pública aos quais devemos
acrescentar outros, como rede hoteleira deficiente. A lista é interminável.
Contudo, a boa notícia, posso lhes assegurar, é que no final tudo dará
certo. Onze anos de experiência em construção civil me permitem lhes dizer o
porquê desta crença.



1. Planejamento



Não temos cultura de planejamento. Este fato é um resquício do período de
superinflação e instabilidade institucional que vivemos entre 1980 e 1994. A
falta de planejamento está presente nas pessoas que não cultivam o hábito de
poupar, fazer seguro ou plano de previdência. Está visível no estudante que
após quase quatro anos de curso reserva apenas dois ou três meses para fazer
seu trabalho de conclusão. Está inerente às empresas, que apenas
recentemente começaram a traçar um planejamento estratégico anual para
orientar suas ações corporativas.



2. Administração do tempo



Decorre do aspecto anterior. Somos uma nação que tem por hábito protelar,
procrastinar, adiar. Desrespeitamos veladamente horários em quaisquer tipos
de compromisso, seja uma reunião escolar, de condomínio ou na empresa.
Chique é chegar atrasado ao casamento, à festa, ao encontro marcado. Bom
mesmo é deixar para fazer no último instante.



3. Ética



Este é o ponto-chave. Quando se fala em construção civil, vou lhes
confidenciar algumas coisas. A regra do jogo é entrar na obra. Vencer a
licitação ou a concorrência, seja pública ou privada, mesmo com margem de
lucro muito reduzida. Diante dos riscos, vale até mesmo encarar margem
negativa no início da obra. Sabe por quê? Os grandes ganhos virão depois sob
a forma de aditivos contratuais, taxas de urgência, adendos, horas extras e
todo tipo de expediente. Funciona assim para a empresa ou consórcio vendedor
do certame, bem como para seus subempreiteiros e terceirizados. Este é o
princípio ético básico.



Por isso, tenham algumas certezas. Primeiro, todos os orçamentos em curso
serão multiplicados por, no mínimo, quatro ou cinco. Segundo, a partir de
2013, e não antes, as capitais que sediarão jogos se tornarão imensos
canteiros de obras. Terceiro, teremos uma bela Copa e uma incrível
Olimpíada. Pena será tomar conhecimento, ao final, do custo de toda esta
brincadeira.